sexta-feira, 2 de março de 2012

Momento e oportunidade.


RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.

Aproveitando o período de Carnaval, resolvi tirar duas semanas de férias em parte fazendo um cruzeiro pelas Bahamas e nos demais dias revisitando cidades turísticas nos Estados Unidos. Foram dias que me deram a oportunidade de testemunhar, fora do país, aspectos positivos do momento que vivemos no Brasil e refletir sobre os desafios a serem vencidos para continuarmos a crescer.

A primeira observação feita está associada ao indiscutível crescimento da classe média brasileira e ao maior acesso de nossa população àquilo que, durante anos, apenas fazia parte de seu sonho de consumo. A redução da taxa de juros e o aumento do crédito, associados ao real valorizado, permitem que milhares de brasileiros estejam hoje viajando pelo mundo. O cruzeiro mencionado foi apenas um pequeno exemplo. Dos cerca de 6.100 passageiros, 2.800 eram brasileiros. Só se ouvia falar português por onde quer que você estivesse no navio.

São conhecidas as verdadeiras invasões de brasileiros na Flórida nas férias, notadamente em Orlando, para visitar os parques temáticos, mas jamais na proporção de hoje. Nos shoppings da cidade, são raras as lojas sem vendedores que falam a nossa língua e já há panfletos e informações em português em todos os parques.

Isso sem falar dos anúncios em português para a venda de imóveis. Um corretor com o qual conversei me contou que os brasileiros têm sido os maiores compradores estrangeiros de imóveis na Flórida, algo que seria impensável até mesmo em um passado recente.

Outro aspecto interessante é o geográfico. Anos atrás, os sotaques dominantes eram de São Paulo, do Rio, de Minas Gerais, mas no tal cruzeiro das Bahamas, por exemplo, mais de mil brasileiros eram de Pernambuco. Também sinal dos novos tempos e da recuperação econômica do Nordeste brasileiro.

Mas a mais significativa observação está ligada a recursos humanos e pode mostrar um exemplo a ser seguido pelo Brasil -caso não queira atrasar seu crescimento.

Ao longo das últimas quatro décadas, os EUA conseguiram desenvolver, seja no deserto de Nevada ou nas áreas semipantanosas da Flórida, uma indústria de entretenimento com enorme sucesso e um fator foi fundamental nessa como é em qualquer indústria: mão de obra de qualidade. E, nesse ponto, não há restrição de nacionalidade. As principais atrações tanto dos supershows de Las Vegas como do navio que utilizei são artistas provenientes de todos os cantos do mundo.

Hoje o Brasil vive um momento extraordinário, com economia estável, longe das crises e com um sistema político consolidado. Sou de uma geração em que muitos perderam a convivência de amigos que tiveram de se aventurar no exterior para encontrar emprego, principalmente nos EUA e na União Europeia. Era uma gente guerreira, destemida e empreendedora que certamente colaborou bastante para o sucesso das nações onde foi morar.

Os tempos mudaram e o movimento agora tende a ser contrário, com muitos estrangeiros de elevado nível de capacitação profissional interessados em fugir do desemprego de seus países e sendo atraídos pela estabilidade e pelas oportunidades de crescimento existentes no Brasil. Será um grande erro se não aproveitarmos a chance de trazê-los para cá.

Os novos desafios para um crescimento econômico sustentável são enormes, e passarão nos próximos anos por uma demanda cada vez maior de ciência e de tecnologia.

E provavelmente a maior dificuldade de todas no Brasil será conseguir contar com uma força de trabalho treinada e capacitada para enfrentá-los.

Por isso, uma política correta de atração de mão de obra especializada do exterior para completar nossos quadros de maior deficiência será fundamental. Essas medidas, aliadas a um plano de educação de médio e longo prazos, dariam ao Brasil as bases necessárias para o continuado crescimento sustentável, pois a natureza já nos dotou favoravelmente de recursos naturais dos mais variados, restando a nós a missão de aproveitá-los da melhor maneira possível.

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