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domingo, 28 de fevereiro de 2010

CRISE NO CAPITALISMO?

Estou gostando da leitura de um pequeno livro do Professor CLAUDE JESSUA, da Universidade Paris II, com o direto título CAPITALISMO. Em determinado momento ele escreve que a crise atual, qualquer que venha a ser o seu resultado, provavelmente causará mudanças profundas na organização financeira dos mercados mundiais. Contudo, trata-se de uma CRISE DENTRO DO CAPITALISMO e NÃO DO CAPITALISMO.

Nisso nós nunca tivemos a menor dúvida.

domingo, 13 de setembro de 2009

ECONOMIA EM CRISE - UM ANO DEPOIS

E para concluir esta análise de quatro diferentes visões sobre a crise econômica, lemos no caderno MAIS deste domingo na FOLHA, a resposta de LUIZ GONZAGA BELLUZZO, economista e professor aposentado da Unicamp e autor de "Ensaios Sobre o Capitalismo no Século 20" (ed. Unesp), para a questão: Há alternativas, novos temas ou enfoques que devam ser incorporados ao ensino de economia?
Ao longo do século 19, a economia abandonou definitivamente os constrangimentos da política e inventou o Homo oeconomicus.
Dotado de conhecimento perfeito, esse ser, produto da mais absurda abstração, busca maximizar sua utilidade ou os seus ganhos, diante das restrições de recursos que lhe são impostas pela natureza ou pelo estado da técnica.
Os sistemas sociais nascidos desse paradigma dominante em economia não dispõem de uma estrutura intrínseca, isto é, esgotam-se nas propriedades atribuídas aos indivíduos racionais e maximizadores, partículas que definem a natureza da ação utilitarista e que jamais alteram seu comportamento na interação com as outras partículas carregadas de "racionalidade".
Os manuais de economia mais badalados acatam as chamadas teorias novo-clássicas, com expectativas racionais.
Elas afirmam que a estrutura do sistema econômico no futuro já está determinada agora. Isso porque a função de probabilidades que governou a economia no passado tem a mesma distribuição que a governa no presente e a governará no futuro. A historicidade da vida social vaza pelo ralo.
Para os que dissentem dessa visão, a economia é um saber que está obrigado a formular suas hipóteses levando em consideração o tempo histórico, dimensão em que se desen- rola a ação humana.
Ela deve se entregar ao estudo do comportamento dos agentes privados em busca da riqueza, no marco de instituições sociais e políticas construídas pelas ações e decisões coletivas do passado, ou seja, pela história.

ECONOMIA EM CRISE - UM ANO DEPOIS

Ainda do caderno MAIS da FOLHA DE S. PAULO de hoje, VINICIUS CARRASCO, coordenador de graduação do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, responde a grande questão acadêmica: Há alternativas, novos temas ou enfoques que devam ser incorporados ao ensino de economia?
O papel de um economista é avaliar o desempenho de instituições econômicas (por exemplo, mercados, organizações e outros) em mediar a interação de agentes.
Portanto, a suposição feita de que os agentes econômicos são autointeressados e racionais (tomam as melhores decisões para eles) é indispensável: caso não a fizéssemos, não conseguiríamos identificar se uma determinada ineficiência econômica advém de instituições mal desenhadas ou de ações tomadas por agentes imperfeitos.
Não quero, de maneira nenhuma, subestimar a imperfeição humana. Só acredito que ela não deva ser objeto de análise de economistas (talvez o seja de psicólogos e psi- quiatras).
Usando a crise atual como exemplo, ao supor racionalidade por parte dos agentes, os economistas conseguem identificar de maneira limpa, entre outras, as falhas que houve nos desenhos da regulação financeira e de incentivos dos tomadores de decisão e, com isso, propor mudanças.
Segue daí que não sou entusiasta das abordagens comportamentais e psicológicas à economia, muito em voga em alguns centros nos EUA. Em particular, acredito que, antes de sua incorporação ao currículo de economia, é necessário que incorporemos, tanto aos currículos quanto às agendas de pesquisa, aspectos não psicológicos extremamente relevantes, mas que nossos modelos, especialmente os macroeconômicos e de finanças, ignoram em geral: heterogeneidade, dispersão (e assimetria e imperfeição) de informação entre agentes e falhas de mercado, entre outros.

ECONOMIA EM CRISE - UM ANO DEPOIS

Todos são cientes que este blog publica qualquer informação que possa ser útil ao leitor, INDIFERENTE da origem ser de um pensamento ortodoxo ou heterodoxo. Nossa pluralidade é de sempre conhecer os dois lados da questão, como já postamos em outros comentários. Mesmo sem concordar, acreditamos que a leitura do OUTRO pensamento melhora o NOSSO entendimento da questão. Por isso, neste um ano de CRISE e com o excelente caderno MAIS da FOLHA, leiam mais uma resposta para a questão "Há alternativas, novos temas ou enfoques que devam ser incorporados ao ensino de economia?", agora respondida pela LEDA PAULANI, professora titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e autora de "Brasil Delivery" (ed. Boitempo). Recentemente, a rainha da Inglaterra visitou a lendária London School of Economics e perguntou aos doutos docentes por que ninguém lograra prever a profundidade da crise que se avizinhava. Os professores, cultores da teoria ortodoxa, crédulos do mercado e de suas divertidas utopias (autorregulação, eficiência, ótimo social), responderam que, contando embora com as mais brilhantes mentes matemáticas, o cálculo do risco enfocara apenas fatias do mercado. O sistema como um todo não fora considerado. O que eles não disseram é que, formados na doxa econômica, os economistas jamais conseguiriam fazer esse tipo de análise totalizadora. A formação hoje dominante põe ênfase apenas na matemática, nas técnicas de modelagem, olhando com enfado quaisquer considerações não passíveis de matematização. Sociedade, instituições, história não cabem nessa visão, são anticientíficas. A filosofia também não tem lugar, pois é com fastio igual que se encaram as questões metodológicas. Economistas heterodoxos se deram conta dessa lacuna na resposta desses professores e lembraram a acusação, feita em 1991, por uma comissão da Associação Americana de Economia, sobre os cursos de pós-graduação em economia, os quais estariam formando "sábios idiotas", treinados na técnica, mas "inocentes" do mundo real. A crise, porém, não estancará a produção de sabichões. Uma formação que desdenha a mais abrangente e consistente teoria do capital só pode continuar a fazer o que tem feito: vender ideologia como ciência.

ECONOMIA EM CRISE - UM ANO DEPOIS

Na FOLHA deste domingo, o caderno MAIS publica excepcional material sobre a ECONOMIA e a CRISE que completa um ano. Dentre os diversos textos, divulgamos a resposta do Professor LUIS HENRIQUE BERTOLINO BRAIDO, atual diretor de ensino da Escola de Economia da FGV-RJ, sobre a seguinte questão: Há alternativas, novos temas ou enfoques que devam ser incorporados ao ensino de economia? A sua resposta é para a nossa reflexão nestes novos e rápidos tempos, como Professores ou Estudantes da nossa ECONOMIA.

O princípio básico da ciência econômica - denominado individualismo metodológico - enfatiza a liberdade de escolha do indivíduo frente às estruturas sociais. Portanto, não há como iniciar um curso de economia sem ensinar os modelos de escolha individual. Como a relação entre indivíduos livres é intermediada por mercados ou outros mecanismos sociais, o conhecimento rigoroso sobre equilíbrio geral, teoria dos jogos, desenho de mecanismos, externalidades e assimetria de informação constitui o segundo pilar de qualquer programa na área. Por fim, como a seleção entre teorias alternativas depende de testes empíricos, o economista moderno necessita de sólida formação quantitativa. A separação entre temas macroeconômicos e microeconômicos está superada. A profissão dispõe de um corpo teórico consolidado para analisar temas tão diversos quanto finanças; comércio internacional; políticas monetária, fiscal, cambial e industrial; história econômica; regulação e defesa da concorrência; previdência; meio ambiente; desigualdade social; crime e educação. A abordagem desses temas baseia-se no método científico, que enaltece a dedução lógica formal e o confronto de suas conclusões com fatos observáveis. A utilização desse método permitiu à civilização ocidental alcançar notável progresso tecnológico nos últimos séculos. Ao dotar seus alunos desse poderoso instrumental analítico, o curso de economia capacita-os a diferentes desafios profissionais. Para tanto, cabe às instituições brasileiras elevar o formalismo no ensino de teoria econômica e ampliar o número de docentes e discentes envolvidos em pesquisas científicas de nível internacional.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A PODEROSA ECONOMIA AMERICANA NA EXAME

Preparem-se, pois a EXAME que estará nas bancas neste final de semana é daquelas de ler com prazer. Para começar, deixo com eles o melhor da edição: “As vésperas do primeiro aniversário da eclosão da maior crise das últimas décadas, os Estados Unidos tentam se reerguer. EXAME percorreu o país e entrevistou dezenas de empresários, pessoas comuns e quatro prêmios Nobel de Economia para construir a imagem da América após a quebra do banco Lehman Brothers. O resultado está nesta edição especial com oito reportagens, que mostram como os pacotes econômicos, a reinvenção das montadoras, a ressurreição de Wall Street e os investimentos em energia e inovação farão com que o país permaneça como a mais poderosa economia do planeta.”
E ainda tem colega que aposta na CHINA...

sábado, 8 de agosto de 2009

ECONOMIA EM RECUPERAÇÃO? SIM OU NÃO? TALVEZ?

É muito bom ler no ESTADÃO que o fim da recessão nos Estados Unidos está próximo, nas palavras do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan e do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, em entrevistas diferentes à rede de TV ABC.

Tempos atrás reconheço minha total confiança na argumentação econômica do Greesnpan, porém hoje, mesmo continuando otimista, não tenho mais nele a confiança que depositava. Quanto ao Geithner, ainda está sendo avaliado... Portanto, a torcida é forte pela pronta recuperação econômica mundial, mas prudência e caldo de galinha não faz mal a nenhum economista neste tempo de crise.

domingo, 28 de junho de 2009

KEYNES NÃO MORREU.

Esta eu li no Estadão e tem muito a ver com que está acontecendo nas políticas econômicas adotadas em muitos países atingidos pela crise.

Em meio à crise mundial, John Maynard Keynes (1883-1946), o célebre economista por trás da concepção de que os governos devem usar o dinheiro dos contribuintes para contrabalançar os efeitos deletérios de uma depressão econômica, voltou à moda. Derrotado nas últimas décadas pela voga monetarista - aquela em que o Estado deveria soltar as amarras do mercado, uma entidade supostamente auto-ajustável -, Keynes retornou com força ao mainstream acadêmico e à formulação de políticas públicas. As chamadas medidas “contracíclicas”, adotadas por diferentes governos para estimular a demanda agregada e amenizar os efeitos da recessão mundial, são ecos visíveis de suas ideias.”

terça-feira, 2 de junho de 2009

UMA PIADA DE ECONOMIA

Em tempos de crises, rir ainda é o melhor remédio. Recebi via e-mail a piada abaixo que anda circulando pela internet e gostaria de compartilhar com os meus quase dois leitores. Afinal, nem tudo é para chorar...(Esquecendo um pouco da crise e do voo da AF).

"Mês de agosto, às margens do Mar Negro. Chovia muito e o vilarejo estava totalmente abandonado.

Eram tempos muito difíceis e todos tinham dívidas e viviam de empréstimos.

De repente, chega ao vilarejo um turista muito rico. Entra no único hotel do vilarejo, coloca sobre o balcão uma nota de 100 euros e sobe as escadas para escolher um quarto.

O dono do hotel pega os 100 euros e corre para pagar sua dívida com o açougueiro.

O açougueiro pega o dinheiro e corre para pagar o criador de gado.

O criador pega o dinheiro e corre para pagar a prostituta do vilarejo, que por conta da crise, trabalhou fiado.

A prostituta corre para o hotel e paga o dono pelo quarto que alugou para atender seus clientes.

Nesse instante, o turista desce as escadas após examinar o local, pega o dinheiro de volta, diz que não gostou de nenhum dos quartos e abandona o vilarejo.

Ninguém lucrou absolutamente nada, mas toda a aldeia vive hoje sem dívidas, otimista por um futuro melhor."

domingo, 10 de maio de 2009

ECONOMIA E SAÚDE - DUAS CRISES

E agora que temos também a preocupação com a "gripe suína", nada como analisar a charge do nosso cearense SINFRÔNIO, no Diário do Nordeste, grande Mestre na arte de dizer tudo sem escrever quase nada.
Afinal, com o Nosso Guia no comando, realmente a situação está sob controle. Lembram da "marolinha?" 
 

quarta-feira, 22 de abril de 2009

ECONOMIA, CRISE E ECONOMISTAS

Desde que esta crise não sai da mídia, temos lido diversos textos ou artigos com críticas aos Economistas por não terem detectado antecipadamente essa terrível situação. Matéria do Peter Coy, Editor de Economia da BusinessWeek, republicada no Valor Ecônomico de 22/04/09, é capaz de deixar qualquer colega capaz de engolir todos os livros-textos que leu em sua vida. Como o artigo é longo e para poupar meu fígado, deixo com meus quase dois leitores, apenas o início do texto. (Porém, quem conseguir ler todo o texto, vale a pena o esforço).
A maioria dos economistas fracassou em prever a pior crise econômica desde a década de 30. Agora eles não conseguem se entender sobre as formas de resolvê-la. As pessoas estão começando a se perguntar: para que mesmo servem os economistas? Um analista escreveu recentemente num blog sobre habitação que os economistas se saíram pior na previsão do mercado habitacional do que seu pai, que nem tem educação formal, ou que sua mãe, que só terminou o colegial. "Se você é um economista e não viu isso se aproximando, você deveria reconsiderar seriamente o valor da sua formação e talvez devesse fazer algo que tenha um valor palpável para a sociedade, como colher vegetais", escreveu no patrick.net. Bem feito, seus espertalhões fracassados! Andem, pulem de uma curva de oferta.
Ainda bem que autor consegue esclarecer alguns itens a nosso favor, principalmente ao relembrar o economista britânico John Maynard Keynes: "Homens práticos, que se julgam livres de qualquer influência intelectual, geralmente são escravos de algum economista defunto".
E descobre o nosso principal pecado: a arrogância. Realmente, ele não conhece e/ou não leu TODOS os economistas do mundo...

sábado, 18 de abril de 2009

INCERTEZAS ECONÔMICAS EM 2009

  • Economia rima com incerteza, sem dúvida. E como. Li na Folha que dois dos principais membros do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) sugeriram que o pior da crise financeira já passou no país. Donald Kohn, vice-presidente do Fed, e William Dudley (diretor da unidade regional do banco em Nova York) defenderam os cortes de juros e as injeções de capital na economia como forma de reativar o crescimento americano. Enquanto isso, a economista suíça Beatrice di Mauro, primeira mulher a integrar o grupo de cinco peritos em economia que assessora o governo da Alemanha, disse que os piores efeitos da crise financeira ainda estão por vir e que é preciso rigor com os bancos que não estão preparados para superá-la. Afinal, quem tem razão nesse caso? Vai chover ou vamos a la playa? Acredito que nunca foi tão importante como agora estudar a questão das Expectativas Racionais. SE existir otimismo, como tentamos fazer na nossa vida, também na Economia o que está tóxico pode ficar saudável...  

MERCADO FINANCEIRO - REFORMA JÁ.

  • Recentemente, PAUL KRUGMAN escreveu no The New York Times que as autoridades ao invés de "reorganizar os caixas dos bancos, deveriam era tornar o setor bancário chato, como era no período entre meados de 1930 a 1980." Lembrou ele que em 2005, o economista RAGHURAM RAJAN, da Universidade de Chigago, alertou que o "rápido crescimento das finanças tinha aumentado o risco de um derretimento catastrófico". (Palavras de fazer inveja a Mãe Diná...). Com a boa notícia divulgada em 17/04/09, que o CITIGROUP  teve o primeiro lucro trimestral desde 2007, no valor de US$ 1,6 bilhão, ante um prejuízo US$ 5,1 bilhões no mesmo período do ano passado, isso demostra que o sistema financeiro - que está no olho do furacão, logo virará esse jogo. No entanto, KRUGMAN tem toda a razão ao pedir uma reforma financeira séria. Será que o OBAMA topa? 

domingo, 12 de abril de 2009

CONSENSO DE WASHINGTON E A CRISE

Por mais que reclamem, muito do que o BRASIL tem de bom hoje é resultado de umas idéias que foram erroneamente denominadas de Consenso de Washington, situação essa que já postei anterirmente. A entrevista abaixo, que acabei de receber do meu ex-Professor da UnB Carlos Pio e foi publicada no Estadão de hoje, esclarece muito do que aconteceu e serviu para hoje. Com vocês, John Williamson, o criador do Consenso de Washington:
O Consenso de Washington não morreu, e o cumprimento das suas recomendações fiscais explica a resistência da América Latina, em especial Chile e Brasil, diante da pior crise global desde os anos 30. A afirmação é do economista britânico John Williamson, o "pai" do Consenso de Washington, um conjunto de recomendações de política econômica elaborado em 1989, com foco específico na América Latina. Segundo o economista, o governo Lula tomou decisões muito boas na área macroeconômica. Para ele, a postura fiscal rígida dos países latino-americanos os ajudou a atravessar a atual crise com custos relativamente moderados. Na recente reunião do G-20, em Londres, o primeiro-ministro Gordon Brown declarou que "o velho Consenso de Washington acabou". Williamson discorda, mas diz que são necessários ajustes. Williamson falou por telefone com o Estado na quinta-feira, de seu escritório no Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington:
A reunião do G-20 em Londres aponta para um novo consenso econômico global. O Consenso de Washington acabou?
Não, as nossas recomendações ainda valem. Esse novo consenso tem uma parte em comum com o que eu venho dizendo, mas também vai além. Eles falam no crescimento ser compartilhado, que haja prosperidade não apenas para os ricos e poderosos, mas que seja disseminada e chegue aos menos privilegiados. Isso é muito importante. Eles também falam sobre regular o sistema financeiro, e certamente isso não é algo que estivesse no Consenso de Washington inicial. Eu gostaria de ter colocado pelo menos alguma menção, mas nem isso eu fiz. Esse é um acréscimo merecido. 
Que outros pontos do comunicado de Londres não estão no Consenso de Washington?
Eles mencionam a importância de instituições globais fortes, o que não estava no consenso original. Mas, nesse caso, eu tenho uma desculpa bem melhor, porque estava escrevendo para a América Latina, uma região específica, e não para o mundo todo. Não haveria porque falar de instituições globais naquele contexto. O ponto final que eles enfatizaram, e que também não consta do Consenso de Washington, é o meio ambiente, algo que realmente entrou na agenda nos últimos anos.
A regulação não entrou no Consenso de Washington original?
É até um pouco embaraçoso, porque um dos tópicos (do documento original) era sobre desregulação. Mas eu estava me referindo à desregulação do tipo que elimina barreiras à entrada e saída de mercados, e não em desregulação financeira. Eram temas como os empresários não encontrarem diversos obstáculos para demitir funcionários, o que os torna menos inclinados a contratar. Ou desregulação em áreas como transporte por caminhão, ferrovias, aviação, como ocorreu nos Estados Unidos nos últimos vinte anos.
Mas o que havia sobre o setor financeiro?
Fui bastante específico em falar de liberalização do sistema financeiro, e é provavelmente verdade que, se mantivéssemos um setor financeiro completamente regulado, não haveria acontecido uma crise desse tipo. Eu ainda acho que o melhor sistema envolve liberalização mas, junto com isso, uma boa supervisão do sistema financeiro, e regras, regulação. Posteriormente, eu reconheci a importância do tema, e afirmei que, se é para liberalizar o sistema financeiro, tem de regular também. Eu disse que ter uma sem a outra é um convite a problemas.
De qualquer forma, parece ser consensual agora que a regulação insuficiente, que foi endossada pelo establishment econômico-financeiro global, é uma das grandes causas da crise.
Claro que houve uma falha. Com o benefício do olhar retrospectivo, vemos que foi um erro dar tanta liberdade. Algumas coisas que aconteceram no sistema financeiro foram claramente excessos. Acho certo apertar a regulação, mas não é preciso também usar os princípios corretos. Não se trata apenas de coordenação internacional, da questão do pagamento a banqueiros, mas também de impedir que os bancos se tornem grandes demais. É muito pouco saudável ter bancos "grandes demais para falir". Também é preciso ter uma supervisão prudencial macroeconômica. Tradicionalmente, a ênfase é inteiramente na supervisão prudencial microeconômica, e isso não está certo, porque os bancos são atingidos por choques similares, simultâneos. Havia uma suposição implícita na regulação de que isso não ia acontecer, mas aconteceu. 
Em que pontos o comunicado de Londres coincide com o Consenso de Washington?
O primeiro é a ideia de que a globalização é uma coisa boa, e de que precisamos manter o comércio internacional fluindo, e não voltar para uma situação de diversas economias fechadas. Isso está logo no começo. O comunicado também foi muito explícito em dizer que a maioria das economias que fazem parte do G-20 é baseada em princípios de mercado, e eles veem isso como importante. Esse era um dos pontos que eu mais quis enfatizar no Consenso de Washington.
Por quê?
Porque se trata de uma grande mudança de pensamento. No período inicial do pós-Guerra, havia um argumento de que as pessoas em países em desenvolvimento não respondiam a incentivos econômicos da mesma forma que nos países desenvolvidos, e que, então, um tipo de pensamento econômico diferente tinha de ser usado. Eu acho que isso está errado, e não penso que o comunicado de Londres tenha embarcado neste caminho.
Mas a recomendação de aumentar gastos públicos para sair da recessão não contradiz a defesa de disciplina fiscal pelo Consenso de Washington?
Não, o comunicado menciona duas vezes a importância de se alcançar sustentabilidade fiscal no longo prazo, o que eu defendia para a América Latina. É claro que é apropriado ter políticas fiscais expansionistas neste momento, no meio de uma recessão, mas também é apropriado torná-las menos expansionistas à medida que o tempo passa e essas economias se recuperam.
O Consenso de Washington está ligado à agenda liberal de Margaret Thatcher e Ronald Reagan?
Bem, a intenção era de buscar um consenso, e, portanto, determinar o que tinha sobrevivido em termos de ideias ao final daquele período. Em relação a Margaret Thatcher, foi importante que ela tenha introduzido e tornado popular a privatização. Acho que ela estava certa. Mas o Consenso de Washington nunca foi um apoio generalizado às ideias de Reagan e Thatcher.
Como o sr. vê a América Latina e o Brasil diante da crise?
Eu realmente acredito que diversos países latino-americanos seguiram razoavelmente bem a parte macroeconômica do Consenso de Washington, especialmente o item relativo à disciplina fiscal. O governo Lula, por exemplo, tomou decisões muito boas na área macroeconômica. E eu acho que essa postura fiscal dos países latino-americanos os ajudou enormemente a atravessar a atual crise com custos relativamente moderados. É claro que o Chile é a estrela, mas aquilo é verdadeiro também em relação ao Brasil - e mesmo, até certo ponto, à Argentina. Já diversos países da Europa Oriental, cujas políticas fiscais divergiram fortemente da disciplina recomendada no Consenso de Washington, estão sendo muito mais duramente atingidos nesta crise.
Quer dizer que, no final das contas, a América Latina implementou o Consenso de Washington?
Bem, eu não acho que todos os países, e aí incluo o Brasil e, obviamente, a Argentina, tenham ido tão bem em relação aos temas de aperfeiçoamento da economia de mercado, mas isso é mais relevante para o crescimento de longo prazo do que para a capacidade de resistir a uma crise no curto prazo. A liberalização comercial, por exemplo, foi feita de uma forma infeliz, com a conta de capital liberalizada (liberalização dos fluxos de capital) simultaneamente. Então, houve esse fluxo de capital que tendeu a tornar as exportações não competitivas (pela valorização do câmbio), e isso foi um erro. E há muitas falhas na educação, das quais tratamos na revisão do Consenso de Washington.
As mudança no FMI decididas em Londres estão em linha com o que o sr. defende?
Bem, realisticamente, ninguém esperava que eles concordassem um dia sobre como reformar o FMI. Mas, em linhas gerais, fiquei surpreso com o quanto o comunicado foi na direção que venho favorecendo. Por exemplo, na questão de escolher o diretor-gerente, com base no mérito, e não da geografia, não tendo mais de ser de algum país em particular.
E em relação ao aumento dos recursos para o FMI?
Sou a favor e acho que ajuda muito na situação atual, mas não escrevi especificamente sobre isso. Uma questão que não foi resolvida, na minha opinião, é que os novos empréstimos, com poucas condicionalidades, são para países que sofrem fugas de capital ou paradas súbitas da entrada de capital. Isso deixa de fora todos os países dependentes de commodities, e que podem ter problemas no balanço de pagamentos (no caso de os preços das commodities caírem muito), sem ser por culpa deles. Já houve empréstimos desse tipo, mas, desta vez, uma falha foi não reativar este instrumento.
O que o sr. acha do plano de Tim Geithner (secretário do Tesouro americano) para sanear os bancos do país?
Os americanos pagarão um preço alto por serem tão avessos à possibilidade de nacionalização temporária. Ninguém iria querer um sistema bancário permanentemente estatal, mas provavelmente a melhor coisa seria permitir que alguns bancos sejam nacionalizados temporariamente, e serem privatizados de novo no futuro. Não acho que isso represente uma ameaça tão aterradora, a ponto de se pagar qualquer preço para evitá-la - e é assim que encaro a abordagem do Geithner.  

sábado, 4 de abril de 2009

VERÍSSIMO TAMBÉM É ECONOMIA.

Essa eu li em 02/04/09 e fiquei curioso, pois o autor desta crônica “Respeitável",  Luis Fernando Veríssimo, não faz parte da minha lista de preferidos. Porém, vindo dele, claro que tinha que ter uma crítica ao capitalismo... De qualquer maneira, sempre sou favorável a "ouvir ambas as partes"...

Hyman Minsky morreu em 1996 mas está sendo muito lembrado, e citado, agora. Era um economista e acadêmico americano que destoava da ortodoxia neo-clássica dominante de Milton Friedman e seus discípulos e combateu a desregulação do mercado que desmantelou o capitalismo auto-controlado montado pelos keynesianos depois da Grande Depressão - e acabou dando no atual desastre. Minsky previu o que ia acontecer mas na época do pensamento único e indiscutível ninguém lhe deu muita atenção. Agora o profeta está recebendo as honras devidas. Num trecho de um dos seus livros sobre a instabilidade da economia americana reproduzido recentemente pela revista "The Nation", Minsky escreveu que "o fracasso de políticas desde a metade dos anos 60 tem relação com a banalidade da análise econômica ortodoxa. Apenas uma análise crítica do capitalismo pode ser guia para uma política capitalista bem sucedida". Quer dizer, a análise acritica ou invariavelmente a favor ameaça o capitalismo mais do que qualquer pregação de esquerda. Minsky estava escrevendo para a grande imprensa americana e, sem saber, para a grande imprensa brasileira.

domingo, 29 de março de 2009

REVISTA ÉPOCA - EDIÇÃO DE 30/03/2009

Excelentes matérias a ÉPOCA nos oferece nesta semana sobre a crise. Material bem escrito e que deixa o leitor entendendo realmente o que fazer ou não com o seu $$$ dinheiro. Interessante a citação dos 15 nomes de pessoas que têm poder para definir os rumos da economia global. Claro que, dentre eles, o de nosso Presidente Lula. Vide abaixo a relação completa:
Barack Obama - Wen Jiabao - Gordon Brown - Nicolas Sarkozy - Timothy Geithner - Ben Bernanke - Jean-Claude Trichet - Lawrence Summers - Pascal Lamy - Mahmoud Ahmadinejad - Luiz Inácio Lula da Silva - Warren Buffett - Nouriel Roubini - Martin Wolf - Oprah Winfrey.

quinta-feira, 26 de março de 2009

CRISE 2009 - BOAS NOTÍCIAS. E AINDA ESTAMOS EM MARÇO...

Um pouco de otimismo ajuda, mesmo no meio de um tsunami. De hoje, no site da EXAME, que bom ler a notícia abaixo e torcer para que realmente seja verdade suas previsões...
Após meses de notícias negativas e retração econômica, o banco britânico Barclays acredita que a atividade está próxima do "ponto de inflexão". No relatório trimestral sobre mercados emergentes intitulado "O fim da queda livre", o banco diz que a velocidade da retração econômica vem diminuindo e o fluxo de surpresas negativas que pesaram sobre o mercado está perdendo força. Apesar de ser provável que o ajuste à nova realidade continue nos próximos meses, o Barclays enxerga sinais ainda "incipientes" de que a atividade econômica caiu numa velocidade menor no primeiro trimestre. Além disso, o banco prevê que o consumo tenha expansão nos Estados Unidos entre abril e junho. A China também tem dados sinais mais animadores, já que o governo se mostrou comprometido com a batalha contra a desaceleração econômica. O pacote de investimentos em infraestrutura tentará compensar a queda nas exportações e do mercado imobiliário. O banco também acredita que os diversos pacotes de estímulo econômico divulgados por governos de todos os continentes comecem a fazer efeito no segundo semestre, ajudando na retomada da produção industrial global ainda neste ano. Para aqueles que acreditam que é hora de investir agressivamente na bolsa devido à melhora do cenário, o Barclays avisa: "Esperamos que a recuperação da economia global seja relativamente débil na maioria dos países". Mesmo nesse cenário, há a possibilidade de ganhos nos mercados financeiros - já que hoje está precificado um cenário de depressão ou ao menos de uma recessão muito longa. No entanto, a baixa velocidade da recuperação deve limitar os ganhos de curto prazo. Para o Barclays, a recuperação será lenta devido ao sincronismo da crise em diversas partes do mundo e à provável demora na retomada do crédito aos mesmos níveis pré-crise, principalmente nos países mais alavancados. Além disso, é muito provável que em breve as políticas expancionistas adotadas nas principais economias do mundo gerem inflação e obriguem os bancos centrais a adotar uma posição mais cautelosa. Segundo o Barclays, a atividade econômica na América Latina "está caindo como em qualquer outra economia". A produção industrial deve ter queda de 2,3% neste ano, o pior resultado desde 1983. Mas a boa notícia é que os bancos centrais da região ainda têm muito espaço para baixar os juros. No Brasil, os juros também podem cair muito ainda sem o temor de aumento da inflação ou de uma grande desvalorização do real. Após o corte de 2,5 pontos percentuais acumulado neste ano, ainda haveria espaço para reduzir a Selic dos atuais 11,25% ao ano para 8,75%. Caso a atividade econômica continue a gerar surpresas negativas, um corte adicional para 8,25% ou 8% não estaria descartado. O Barclays está entre os bancos mais pessimistas sobre 2009 e acredita que o PIB cairá 1,9%. A correção no consumo interno já foi até mais forte que a da própria produção, mas ainda deve haver novos ajustes nos próximos meses devido ao aumento do desemprego e às restrições de crédito. Além disso, o investimento deve continuar em queda. Mas quando a economia dará sinais de recuperação? Para o Barclays, o PIB brasileiro só voltará a crescer com algum vigor no quarto trimestre.

quarta-feira, 18 de março de 2009

UMA CRÍTICA AOS ECONOMISTAS

Do colega blogueiro Vinicius Torres Freire, da Folha de S.Paulo, um pequeno trecho de um artigo do Dani Rodrik, economista, professor de Harvard, com o título: CULPE OS ECONOMISTAS, NÃO A ECONOMIA. Cada leitor que tire a sua própria conclusão.

"À medida em que o mundo ruma atabalhoadamente para a beira de um precipício, críticos do ofício da economia vêm levantando questionamentos sobre a sua cumplicidade na crise atual. E com razão: os economistas têm muito pelo que responder.

Foram os economistas os que legitimaram e popularizaram a ideia de que um setor financeiro sem amarras representava um benefício para a sociedade. Eles falavam quase de maneira unânime quando se tratava dos "perigos da regulamentação excessiva do governo". Seu conhecimento técnico - ou o que se assemelhava a isso à época - lhes conferiu uma posição privilegiada de formadores de opinião, bem como acesso aos corredores do poder.

A falta não reside no campo da economia, mas no campo dos economistas. O problema é que os economistas (e os que lhes dão ouvidos) ficaram excessivamente confiantes nos seus modelos preferidos do momento: os mercados são eficientes, a inovação financeira transfere risco aos melhor capacitados para arcá-lo, a auto-regulamentação funciona melhor e a intervenção do governo é ineficaz e prejudicial.

A macroeconomia pode ser o único campo aplicado na disciplina de economia no qual mais treinamento aumenta a distância entre o especialista e o mundo real, devido à sua dependência de modelos altamente irreais, que sacrificam a relevância em favor do rigor técnico. Lamentavelmente, em vista das necessidades atuais, os macroeconomistas fizeram pouco progresso em planos de ação desde que John Maynard Keynes explicou como as economias podem ficar atoladas no desemprego devido à demanda agregada insuficiente. Alguns, como Brad DeLong e Paul Krugman, dirão que o campo já regrediu. "

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...